Ao não haver a calma do dia, que pelo menos haja o silencio da noite, que o possamos partilhar, que o possamos usar para arrancar do corpo, como a água e o sabão costumam fazer ao sujo do corpo as angustias, as arrogâncias que os outros nos disseram, as lágrimas que não chorámos, as palavras que não dissemos na altura devida e que assim possamos amar-nos melhor, amar-nos como animais, onde a natureza nos apanha desprevenidos e nos faz cometer loucuras saudáveis.
Se houver espaço para chorar que o façamos juntos, ou pelo menos que um de nós esteja num bom dia para que apoie o outro, para que dele possa limpar as lágrimas que lhe queimam o rosto e o ajude a apagar as más memórias colocando-lhe novas.
Recordarei sempre daquilo que nos juntou e do dia em que partimos as asas que nos foram dadas do céu para que pudéssemos viver na terra como mortais.
Coloca na minha cabeça a coroa. Coloca sobre os meus ombros os teus choros. Sobre os meus lábios um pedaço do teu amor.Sobre a palma da minha mão a chave do teu coração.De mim arranca pedaços de vida, pedaços de amor, de choro, de alegria.
Promete-me tirar da escuridão quando me meter nela.
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