Segurar-te pela mão é coisa do passado? E os
beijos são o quê? Os mimos no nariz? As palavras ditas sobre o teu peito que
sobe e desce com a ternura do teu respirar. É do passado olhar para ti com
carinho e desejar o melhor para ti? É mau? Será do passado desejar-te
felicidade? Seja comigo ou com qualquer outro? É do passado dizer que te amo?
Antiquado talvez? Fora de moda? Se o amor não é sincero, que ganhamos nós com
isso? Em que pé ficamos? Que dúvidas temos, sobre mim, sobre ti, sobre nós,
sobre o futuro, sobre o que temos agora? Como podemos dizer da melhor maneira,
com as palavras mais simples do mundo, aquilo que o coração sente? Aquilo que
nos faz pesar a alma, que causa um nó no estômago.
No momento em que te vi, no meio da chuva, com
ela a cair com força como se te quisesse arrancar a roupa do corpo, como se te
quisesse fazer desaparecer, aproximei-me de ti e não pude destingir entre as
gotas da chuva e as lágrimas no teu rosto. São tantas as noites que recordo os
teus olhos tristes. São tantas as noites que recordo as palavras fortes que
proferes contra ti. São tantas as noites que passo em branco a pensar nos teus
carinhos. São mais ainda as noites que passo em que me arrependo de não te ter
dado a mão nas alturas que devia.
Algumas vezes quando a noite se põem eu ponho-me
a pensar como gostava tanto de dormir para sempre. Mas depois olho para
ti, para a pessoa que foste ao início, a pessoa que vi crescer diante de mim e
a pessoa que agora és. Nada mais me dá orgulho do que ver-te sorrir, ver-te chegar
ao topo da montanha e gritar a pulmões vivos o gosto que tens pela vida. E
voltas os teus olhos para mim e lanças de novo o olhar ao mundo. Respiras
fundo, devolves o olhar e sorris. Os meus braços mesmo estando velhos e quase
sem força, conseguem ainda dar-te o apoio de que precisas. Não há coisa mais
deliciosa do que ter a tua voz a bater sobre o meu peito, de ter a tua cabeça
sobre ele enquanto adormeces a ouvir o meu coração bater. E se o carinho não te
interessar, a viagem, o passeio de fim-de-semana, o gargalhar à noite no café,
e as conversas intermináveis, serão uma boa solução.
Até lá. Tudo o que vier, agradável ou não, será
recebido com todo o gosto.
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