Oh meu amor ledo e cego, tanto te tenho para contar, tanto para fazer contigo.
Há algo que tenho vindo a remexer vezes e vezes sem conta na minha cabeça, por vezes sonho até com o momento, ouço-me a falar, imagino as tuas reacções, que possas dizer, o que poderão dizer os teus olhos, os gestos do teu corpo, tudo. E, aquilo que tanto quero fazer, dá-me em certos modos um medo, medo que não seja visto da maneira como eu quero, que vejas como um sinal de fraqueza, como algo que faz de mim demasiado sensível, demasiado romântico e todos sabemos que homens românticos morrem sempre antes de chegar a beijar.
Porque eu sei que as raparigas gostam de rapazes sentimentais só em filmes, porque na vida real, oh, o que elas mais gostam é deles brutos, maus, mal-educados, arrogantes, que andem a porrada por elas, que digam asneiras, que fiquem bêbedos com elas, que façam figuras e arranjem confusão com outras pessoas. Que as iludam todos os dias, que lhes mintam, que as tratem mal, que lhes levantem a mão, que lhes gritem e lhes chamem nomes. Que as deixem pendoradas à porta do trabalho, a porta do restaurante, a porta do café. E quando elas engravidam, não vão querer saber mais de vocês. E se quiserem saber fazem para mudar, mas nunca mudam, nunca irão. Porque eles não são fracos, não são humildes, não tem coragem de se dobrar por outros. E são este tipo de rapazes que tenho medo que gostes. São este tipo de rapazes que fazem o tipo de rapaz que sou, parecerem maus, estúpidos, demasiado sensíveis, demasiado românticos, demasiado preocupados contigo. Porque sou do tipo de rapaz que se dá, que se mete, que fala, que se ri e faz rir, que gosta de amar de todas as maneiras possíveis, que gosta da aventura, que trata bem, que fala bem, que te tira do sério, mas logo a seguir pede desculpas. Que te beija na chuva, que te leva a passear, que te faz sair de casa sempre para um sitio novo. Que quer fazer de tudo para que nada fique por sentir, nada fique por dizer, nada fique por viver, enquanto estiveres do meu lado. Sou o tipo de rapaz que te tira o sono, que te dá sono. Sou o tipo de rapaz que te dá o à-vontade para seres quem és sem julgar. Sou o tipo de rapaz que só de te ver sorrir se derrete. Que só de ouvir a tua voz se lhe parte o coração. Que só de te beijar cada centímetro da tua suave testa morre um pedaço mais. Que sente o mundo quando te beija as mãos, quando te olha nos olhos e vê alegria.
Sou fraco por ser mais calmo que a a maioria? Não! Mas sim, sou sentimental. Sei também ser o filho da puta que tanto adoras. Mas é o carinho que me habita em demasia no peito. Porque por mais que diga que goste de ti e chegue a fazer-te aquilo que já tenho andado a remexer vezes e vezes sem conta na minha cabeça, o meu maior medo és tu. Porque a incerteza das tuas palavras mata-me, destrói-me, faz-me em pedaços, dilacera-me a alma.
Eu não procuro ser como os outros dos filmes, não quer ser apenas sensível contigo. Eu quero amar-te e amar-te é conhecer-te e para te conhecer eu tenho de me dar a conhecer. Porque o amor não é só dar a mão, não é só beijar delicadamente ou apaixonadamente sobre os lábios, sobre a testa, sobre o peito, sobre as mãos. Não é só sexo, não é só paixão. O amor não é só passear, não é só dizer as coisas mais bonitas ao ouvido, ou dizer as coisas mais doces à pessoa que tanto gostamos. Amar é sacrificar cada pedaço de nós, por cada pedaço da outra pessoa. Amar é dizer que sim, quando queremos dizer não, e dizer não quando queremos dizer sim. Amar é fugir, é chorar sem razão. É gritar com o outro e não falar durante um par de horas. É discutir e mais tarde cada um se aninhar no peito um do outro e dizer as coisas amargas que nenhum tinha coragem de dizer na altura, dizer também as coisas doces, dizer o que é certo, dizer o que se sente, o que se pensa. O amor não é só dar prendas, não é só mimar, não é só fazer coisas juntos. Amar é cada um ter o seu espaço, cada um dar ânimo e coragem ao outro.
Porque o amor não é só flores, não é esperar que a outra pessoa saiba exactamente o que tu sentes ou pensas. O amor não é só um acalmar o outro, ou perseguir quando outro sai porta fora. O amor não é um plano. Amor não é ela acalmar-te quando gritas para ela. É ela gritar de volta para ti, mesmo na tua cara para te acordar e manter o controlo, não da discussão, mas das coisas que possas dizer. E mesmo depois de uma luta, é ela/ele aparecer à tua porta na manhã seguinte. Amor não é ela dizer as coisas certas ou saber como lidar contigo. Por isso não, o amor não são as coisas bonitas que vemos nos filmes, não é ela passar a mão pelo teu cabelo e dizer que tudo ficará bem. É sim ela ficar do teu lado e dizer que está tão preocupada e com tanto medo como tu.
Amar é pousar gentilmente o coração nas palmas da mão da outra pessoa e dizer-lhe: “Está aqui, faz com ele o que quiseres. Torna-o em pedaços, ou esquece que alguma vez te dei, desde que tu o tenhas.”
Amar é guardar no peito lágrimas e sorrisos.
Amar é guardar no peito lágrimas e sorrisos.
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