Páginas

sábado, novembro 14

Te seja...

Eu sou o homem que quer o mundo. Eu sou o homem que quer ser rei. Que quer ser rei contigo ao seu lado. A vida tem sido injusta, o povo tem sido injusto para comigo, para contigo, para nós. A vida é muito mais do que estas coisas pequenas e mesquinhas que as gentes fazem e dizem sobre nós. Somos muito mais do que eles Inês. A vida é tudo aquilo que possamos viver sem exageros. Quantos dias fui eu a Albuquerque só para te ver da janela? Quantas noites passei eu sem dormir só para poder ver-te na manhã seguinte? Quanto perdi eu do mundo na ânsia de te ver? Quantas cartas escrevi eu e quantas escreveste tu e nunca nenhum de nós as chegou a ler? Quantas vezes enfrentei o meu pai para que parasse com tamanha estupidez, com tamanha revolta contra ti e os teus? Quantas vezes me disse ele «Ela é um cancro e vai-te levar à morte!» e eu sempre lhe virei costas e me dirigi a ti como a mulher que quisera eu que me fizesse ainda mais feliz.

Rasgaste o rosto com um sorriso deveras exagerado, e nesse momento pude eu ver-te genuína, pura e insensível ao mundo da corte. A vida mundana estava-te nas veias. Sempre gostaste mais do trabalho que da luxuria da corte, mesmo passando largas horas a arranjar o cabelo e a ajustar vestidos. Toda a mulher se gosta de arranjar. Era pelo teu coração que me fazia vergar. Era pelo teu amor que chorava. Era por ti que passava dias sem comer, dias sem dormir, dias de solidão, para no fim te ter por um pedaço do tempo tão curto como um encher de pulmões depois de tanto correr.

Que a alma te seja para sempre elegante.

Sem comentários:

Enviar um comentário