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domingo, março 16

Voltou a manifestar...



Chegaste quando menos precisava de ti, quando menos queria algo contigo. Apareceste com o nevoeiro nas noites de inverno. Surgiste como o mar sobre as praias, como o mar que forma ondas enormes e cruas que levam tudo consigo não deixando nada para mais tarde ser apreciado. Tiveste esse efeito em mim, levaste tudo o que tinha para te dar ao inicio, sugaste-me a vida e durante semanas julguei que estaria a desfalecer, julguei que o meu fim estaria próximo. Levaste tudo o que eu era, levaste consigo todas as minhas forças e durante dias não disseste uma palavra, durante dias que não sorriste para mim, temi que nunca mais viesse a recuperar aquilo que soltei, aquilo que te dei de tão bom agrado. E quando já tudo parecia desabar sobre mim eis que surges de sorriso rasgado no rosto e uma lágrima negra a tocar na bochecha indo alojar-se no teu queixo. Abriste a boca e com a voz tão suave com a brisa que se sente no inicio do verão disseste : 

"Desculpa! Foi o medo que me fez separar de ti! Foi o medo!"

Quando a tua voz capturada pelo silêncio se voltou a manifestar foi apenas para dizer: 

"Perdoa-me!".

As lágrimas tomaram conta de mim, a minha voz ficou rouca e pude sentir a garganta a dar nós em si mesma, impedindo-me de falar. Mas ganhei coragem, engoli em seco, arranhei a garganta com as pontas dos dedos e falei: 

"Temi nunca mais voltar a ver-te, temi que este amor que tinha sobre o meu peito, este ardor que me crescia tão desalmadamente sobre o corpo secasse com a tua ausência, mas não foi isso que aconteceu, tive medo de nunca mais te ver, de nunca mais poder conversar contigo, de nunca mais podermos voltar a sair juntos, de te beijar os lábios delicados e segurar-te nas mãos que tal como as minhas teimam em ficar suadas quando se juntam uma na outra. Temi que a minha vida deixasse de ser importante para mim, pois tanto fiz para encontrar uma alma tão parecida como a minha que me ajudasse a encontrar e realizar os mesmos sonhos e quem sabe os sonhos um do outro, porque tal como tu eu nunca te julguei os sonhos, nunca te calei, nem nunca os matei."

Ela - Senti a tua falta! Falta de ouvir a tua voz e saudades de te ouvir resmungar...
- Não fui só eu que senti a tua falta, também a rua sentiu a tua ausência!
Ela - Sabes sempre como me encantar!

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