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quinta-feira, outubro 29

Pela primeira vez...

Bati-te pela primeira vez em sete anos. Em sete anos de convívio, de namoro, de amor partilhado, de mimo dado, de beijos e abraços. Sete anos de vida feita a dois. Nunca em nenhuma vez nestes anos todos ergui a mão com o intuito de te bater. É claro que por momentos dás-me vontades de te ferir, de te rasgar os lábios, de te colocar uma nódoa negra no peito, mais propriamente no coração. Sentia-me mal cada vez que me erguias a voz e, eu, na minha mente julgando estar a fazer bem, erguia mais a minha. Achava eu que ia fazer com que te acalmasses, mas só te fazia ficar pior. Pior a ti e a mim. E em sete anos esta foi a primeira vez que ergui a mão e te dei uma bofetada no rosto.

A lágrima rolou-te bochecha abaixo, os olhos ficar vermelhos com o sangue, coraste profundamente e lançaste um olhar ameaçador na minha direcção. Viraste-te a mim como se me quisesses matar. Vieste bater-me no peito com morros, pontapés e bofetadas. E sendo eu mais alto e robusto do que tu, deixei. Enquanto desferias tais golpes brutos sobre o meu corpo uma e outra vez, fechei os olhos e pela primeira vez pude sentir-te, conhecer-te de outras formas que não as normais. Não consegui conter as lágrimas e por isso deixei-as ir. Só paraste de me bater quando as primeiras gotas te tocaram nas mãos que me batiam violentamente no peito que começara a ficar dorido. Não me ia vergar, não era pelo orgulho, mas sim para te mostrar que mereci, que não abandono uma luta e sei dar a outra face quando falho, que é a ti que eu amo e é contigo que eu quero ser cada dia melhor pessoa.

Desejava poder conseguir andar para trás com o relógio.
Encontrar-te-ia mais cedo e amar-te-ia muito mais.

1 comentário:

  1. É tão bom ler as tuas palavras, são mesmo reconfortantes :)
    Adoro a maneira como escreves, sem duvida :)

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