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segunda-feira, outubro 13

Verbalização de palavras...


Ela olhou-me com um desejo. Olhou-me com vontades. Olhou-me só, penso eu. Olhou-me e penetrou-me no corpo, tocou-me na alma, sugou-me a vida, roubou-me o sorriso e, no fim. Antes de ir embora ainda esboçou um sorriso.

Muito antes tínhamos estado a falar, não me lembro já bem do quê, não me quero lembrar já. Ela surria, mas não tanto como aquele olhar seguido de um sorriso tão brilhante. Não foi um sorriso de despedida, foi um sorriso de um até já. E permaneço assim estranho, com uma mão agarrada ao coração e a outra a bater com as pontas dos dedos na testa, com o desejo de tentar perceber que sentimento é este, que sentimento foi aquele e, onde irá tal situação dar. Agarrei-me ao que tinha no momento e falei, falei como se a conhecesse, como se fossemos amigos. Terei feito bem? Julgo que não, facilitou-me a verbalização de palavras, ajudou-me a impedir a balbuciação dessas mesmas palavras. Tinha ela o corpo virado para mim, e por vezes sacudia o cabelo e voltava-lhe a mexer de tempos em tempos como se lhe estorva-se a consciência, o pensamento.

Ela disse que gostava do meu olhar. Foi nesse momento que se levantou e foi embora, assim me lembrei do meu primeiro beijo. Estranho e excitante.

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