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quarta-feira, junho 11

Como abraçar o teu coração....


As mãos mostram-se delicadas nas palmas e grosseiras nas costas. As veias povoam-tas sem dó ou qualquer sinal de misericórdia. Mostram a força e a dureza, a destreza e a brutalidade que a alma e a vida ajudaram a fazer delas o que são hoje, a fazer delas o que se vê quando andas com as mãos fora dos bolsos. A tua palma da mão é suave porque assim fazes para as ter. Dizes que o bebé deve sempre sentir a harmonia a cada toque intimo, seja no banho ou na muda de fralda. 

As costas direitas e ágeis, os braços finos mas carregados de força necessária para me abraçar, ou para suportar o peso da filha quando se carrega ao colo. O cabelo anda sempre apanhado, dizes que é mais fácil, retirando-te a constante preocupação de o colocares preso atrás das orelhas. Quando nãos estás a trabalhar, largas os vestidos, as camisas, os brincos, os anéis e os colares para te vestires de fato de treino e sapatilhas desportivas, tendo constantemente o cabelo amarrado. Até quando chegamos a sair de casa, vestes-te sempre de tons alegres, como o laranja, o vermelho, o verde, o amarelo, o cor-de-rosa. Não gostas do preto porque te faz lembrar o dia em que a tua mãe se vestiu completamente de tal cor porque o teu pai faleceu de cancro, não gostas do castanho porque te faz lembrar o podre da terra, não gostas do cinzento porque detestas os dias de chuva intensa.

A simplicidade está-te na alma, a força nos braços e o carinho no peito. Cada gesto, cada fala, cada beijo sobre a testa, cada aperto no teu peito, cada colo que dás à pequena "Inês" é um motivo para que ela, todos os dias sorria. Ela sorri porque aprendeu contigo, porque preferes o sorriso ao choro. Eu fico perdido pelos livros que se vão completando sobre a mesa de escrita, dizes sempre que adoras o que escrevo, dizes sempre para não os deixar incompletos, bem eu te ouço meu amor, mas por vezes o ser pai também tira bastante da alma de cada um. Mas tu. Tu parece que tens uma constante bateria agarrada a ti, sempre cheia de vida e energia.

O sorriso estampado no rosto surge todos os dias e permanece nele até que os teus olhos se fechem e o teu corpo lentamente repouse na cama, junto a mim, depois de leres mais um livro no meio de tantos que tens amontoados junto à tua mesinha de cabeceira, alguns oferecidos por amigos e outros tantos por mim, mas a maioria sem dúvida que foste tu que os compraste só para ler, porque devoras as letras com uma rapidez hábil, dizes que é como respirar o próprio ar que te mantém viva. A tua alma sossega agora sobre a almofada, o sorriso mantém-se, mas muito subtil pela noite dentro.

Beijar-te é como fazer amor com o teu corpo.
Beijar-te é como abraçar o teu coração.

Podias ser real. Por enquanto não o és.
E eu não me importo que sejas apenas um pedaço da minha imaginação. Sabe-me bem escrever-te!

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