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terça-feira, abril 1

Somos Reis, por agora...


Quando a coroa te foi posta na cabeça toda agente se ajoelhou, todas as mulheres soltaram lágrimas de ódio, de alegria, de felicidade, de desprezo, de pena e compaixão. As minhas foram de orgulho, de te ver assim, tão bonita, tão simples de sorriso rosado, de olhar tímido e satisfeito, de lágrima prestes a sair-te do canto do olho esbatendo nas bochechas encarnadas. Se não fosse a tua mão sobre a minha perna a acalmar-me o batimento do coração, certamente que quando me levantei para falar, para soltar as palavras que completavam o teu discurso e, certamente que,… Certamente que não teria forças para falar, certamente que as palavras não me sairiam da boca como te saíram a ti. Tu estavas nervosa, o que é normal, pois foste tu a coroada, já eu… Já eu sentia-me a perder o chão debaixo dos meus pés, sentia que tudo deixara de fazer sentir por breves segundos, por breves instantes que o teu sorriso e a tua mão foram a única coisa que me amparou neste desamparo momentâneo. Aconteceu como me tinha acontecido no pesadelo que tive antes de me sentar, aquela aterradora visão de que as palavras não me iriam sair bem da boca, que tudo o que eu queria dizer me saia totalmente ao contrário, foi um pensamento de puro terror.

Julguei mal as palavras que te saíram da boca. Foram quase todas elas dirigidas a mim, quase todas elas sobre mim. Sinto um alívio dentro de mim. Já mais te irei largar a mão, já mais te voltarei a fazer chorar.

Será que este silêncio alguma vez irá acabar? Voltarei a ouvir o tom da tua voz e sentir a textura suave e delicada das tuas mãos como senti naquele dia em que a coroa te foi colocada na cabeça?

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